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Entrevista de Vito Letizia publicada na “Caros Amigos”.

Vito Letizia propõe uma volta a Marx

“A esquerda deve lutar para que o povo brasileiro tenha acesso a tudo o que lhe foi historicamente negado. Mas, absolutamente tudo lhe foi negado: a terra, o próprio país.” Em entrevista a José Arbex Jr., da revista Caros Amigos, Vito Letizia propõe um retorno à crítica da economia política de Karl Marx e uma releitura da experiência histórica da esquerda, a começar pela demolição do conceito de “vanguarda” e pela crítica aos métodos e concepções sobre classes sociais, partidos revolucionários e direções dos que se dizem marxistas.

“História e Consciência de Classe”, de György Lukács.

História e Consciência de Classe

A partir de uma excelente exposição do pensamento de Engels sobre a contradição entre os motivos que fazem os homens agir e as forças históricas que fazem tais motivos surgir, Lukács vai além e cria um edifício de arrazoados sobre um assunto que não mereceu atenção, quer de Marx quer de Engels: “a consciência de classe”.
O novo tema adquiriu interesse quando da vitória bolchevique na Rússia e das inevitáveis comparações do partido russo com a social-democracia da Europa Ocidental. A todos os esperançosos no futuro da Revolução de Outubro pareceu que os bolcheviques teriam atingido um “nível de consciência” superior, capaz de iluminar o caminho para o socialismo. Esperança que depois se frustrou.

Manifestantes na Marcha contra Wall Street, em Nova York, em 29 de abril de 2010

A grande crise rastejante

A crise econômica atual, irrompida em 2008, embora tenha produzido no mundo maior destruição de capital e emprego do que a Grande Depressão, já está sendo considerada declinante ou encerrada pela maioria dos economistas. Os porta-vozes de mais de um governo, principalmente na área capitalista periférica, estão anunciando o “fim da crise” e alguns, como o Brasil, já estão falando até em “pós-crise”. Como é isso possível?

Ilustração para o artigo "Enfrentar a grande crise", de Vito Letizia.

Enfrentar a grande crise

Segundo Clément Juglar, o teórico dos ciclos econômicos, a riqueza das nações pode ser medida pela violência das crises que atravessam. Sendo assim, pode-se dizer que desde agosto de 2007 os EUA estão demonstrando que continuam a ser a nação mais rica do mundo. E em setembro do ano seguinte, o mundo percebeu que não será mero espectador dessa demonstração. Também percebeu que a serenidade de Juglar não é comum entre os economistas de hoje, pois o que mais se vê são comentários indignados sobre os riscos assumidos por bancos e grandes empresas do planeta, e sugestões de novas regras de avaliação e controle das atividades financeiras.

"La Nuit du 9 au 10 thermidor an II", gravura de Tassaert, sobre a prisão de Robespierre.

O termidor da Revolução Russa

Toda revolução, no sentido próprio do termo (adquirido a partir da Revolução Francesa), é uma crise de dominação de uma classe social. O conjunto de acontecimentos que constituem tal crise põe em movimento um processo de derrubada de uma classe social dominante. Evidentemente, tal tendência pode não se realizar e a dominação em vigor pode sobreviver à crise; ou pode se realizar a meias, dando origem a uma dominação renovada, em que parte das classes sociais antes subalternas passa a partilhar o poder com parte da classe previamente dominante (como ocorreu na Revolução Inglesa). Mas no caso em que a revolução se desenvolve até suas últimas consequências há uma mudança qualitativa.

mapa da América Latina e bandeiras

Estamos apenas no início de uma grande crise mundial

Nesta entrevista à revista Caros Amigos, Vito Letizia põe em foco a América Latina. Com sua habitual lucidez, ele analisa o advento do “chavismo” (incluindo a proposta que se tornou conhecida como “socialismo do século 21”), e as perspectivas postas para as lutas travadas por trabalhadores urbanos e rurais, combinadas, na primeira década do século, com a emergência significativa das mobilizações dos povos originários. O Brasil, obviamente, merece um destaque especial, em particular no que se refere ao início de um balanço necessário sobre a trajetória do PT, da CUT e de importantes movimentos sociais, como o MST.

pintura da Tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789

A Revolução Francesa de 1789

A crise final da monarquia absolutista francesa nos últimos decênios do século 18 foi o estouro de contradições acumuladas ao longo de mais de 150 anos, decorrentes de suas próprias medidas contra a crise que atravessara na primeira metade do século anterior, na mesma época da Revolução Inglesa. Vito Letizia analisa o processo que levou à Revolução Francesa e apresenta uma cronologia.

Revolta Taiping, retomada de Anqing em 1886

A pesada herança histórica da China moderna

Os romanos chamavam de Serica o desconhecido país de onde vinha a seda, intermediada pelos povos da Ásia Central e do Oriente Médio. Correspondia ao que hoje é a China do Norte, excluída a Mongólia. Ali, a partir de aproximadamente 1050 a.C., surgiram, no vale médio do rio Amarelo (Huang he), vários Estados que foram se estendendo para o sul, para o vale do rio Azul (Chang jiang, ou Yangzi). Esses Estados foram pela primeira vez unificados em 221 a.C. e, pouco depois (202 a.C.), o império passou a ser governado pela dinastia Han, que, com um pequeno interregno, durou até 196 d.C., ou seja, quase 400 anos. Daí o uso do nome “Han” para designar etnicamente os chineses.

Capa da primeira edição alemã de “O Capital”, de Karl Marx, de 1867.

Contradições que movem o valor

Marx demonstrou que as formas de manifestação do valor decorrem das contradições sociais que põem em movimento as mercadorias. Com esse método crítico, ele estudou o valor na sociedade capitalista, com os desdobramentos acarretados pela expansão e diversificação da produção capitalista de mercadorias.
A teoria crítica do valor não deve ser confundida com a teoria do valor-trabalho de Adam Smith. Porque, embora ambas teorias reconheçam o trabalho como fundamento da quantificação do valor, “trabalho” e “valor” não têm o mesmo sentido em Marx e Adam Smith.
Vito Letizia faz uma análise sobre o conceito de valor na sociedade capitalista, a partir de O Capital, de Karl Marx.

Passeata na Ladeira do Carmo, na greve geral de 1917

Marx, os marxistas e a relação sindicato-partido-socialismo: seu passado e seu futuro

Após a queda do muro de Berlim multiplicam-se as teorias que defendem “um novo papel” para os sindicatos: o sindicalismo “moderno” deveria ser mais “construtivo” e propor soluções “viáveis” nas negociações trabalhistas; deveria considerar os patrões sob um ângulo mais “positivo” e aprender a reivindicar pensando também na empresa.
Segundo o “consenso” martelado pela mídia, a história teria provado que é falsa a teoria marxista, que afirma o antagonismo de interesses entre empregados e patrões. Aliás, o marxismo como um todo seria um grande equívoco.